PERICO, UM PRODUTO ENDÓGENO DE VALENÇA

O Periqueiro é uma árvore de fruto, da família das rosaceaes, do género pyrus, com características únicas. O perico é o pretexto para uma viagem de sabores, sensações e muitas emoções à volta de um fruto que reafirma a singularidade de Valença como Município Gastronómico de Excelência.
A árvore propaga-se por enxertia, tendo por cavalo os escramboeiros ou pilriteiros, que nos dá este inigualável fruto. É um fruto autóctone, que tem a sua origem em Valença! Podem ser consumidos ao natural, ou tradicionalmente assados no forno, bem regados com vinho licoroso, bem como em calda, mas também são ótimos para decorar sobremesas, gelados, ou até cobertos com chocolate são um verdadeiro manjar. Um fruto que bem pode competir com as mais diversas iguarias das novas criações da alta cozinha.

FRUTO ENDÓGENO DE VALENÇA

As freguesias de Cerdal, São Julião e Fontoura tem a maior concentração e tradição no cultivo desta árvore, embora já seja possível encontrar exemplares em outras freguesias de Valença e de concelhos limítrofes.

No trabalho de campo desenvolvido, ao longo dos últimos anos, pelo investigar e gastrónomo valenciano João Guterres foi possível confirmar que Valença era o epicentro e o berço desta árvore de fruto tão singular.

Esta pesquisa levaram o investigador a percorrer velhos pomares de Melgaço, Paredes de Coura, Tomiño (Espanha) e Vila Nova de Cerveira. Encontrou frutos semelhantes em formatos, calibre e até cor, mas que, no seu conjunto, em nada refletiam as características dos Pericos de Valença.

FUI A CERDAL Á FEIRA DOS SANTOS COMPRAR PERICOS

A secular e tradicional Feira dos Santos, em Cerdal, em 1 e 2 de novembro, é o local por excelência para ver, apreciar, saborear e comprar os pericos.  As senhoras do campo trazem os pericos, em cestos, rivalizando com os demais frutos da época as nozes e as castanhas.

 

Esta feira sempre foi a grande montra dos pericos e o espaço de memória para valencianos, alto minhotos e galegos que quando se fala de pericos sempre se lembram da Feira dos Santos e do sabor inigualável desta fruta

FIZEMOS ENSAIOS

Todos os anos faço ensaios sobre a forma de conservar os pericos, baseando-me na técnica que é usada com os mirabeles. 

O comportamento é bastante positivo, podem ser consumidos com a calda, mas também são ótimos para decorar sobremesas, gelados, ou até cobertos com chocolate são um verdadeiro manjar. A conjugação do doce ácido dos pericos com a fragrância gustativa do chocolate é, sem dúvida, um casamento gastronómico que bem pode competir com as mais diversas iguarias das novas criações da alta pastelaria, que cada dia procura novas conjugações, entre o moderno e o tradicional. 

 

Vamos acreditar, com a mesma convicção com que acreditamos no nosso “caldo verde” que, com trabalho e dedicação, fomos capazes de o perpetuar como uma das “7 Maravilhas da Gastronomia Portuguesa”.

As gerações futuras vão agradecer-nos o facto de termos preservado este fruto endógeno, digno de certificação, porque para nós, valencianos, já é uma das Maravilhas da Gastronomia Valenciana.

À MEMÓRIA DO ILUSTRE VALENCIANO DR. JÚLIO VANGELISTA

Em Setembro de 2005, pouco antes de falecer, tivemos uma tertúlia sobre gastronomia. Era inevitável, o Dr. Júlio adorava falar de comida. Falamos que estávamos já muito perto da temporada de caça. Recordo que me dizia:

“Ó Guterres!…Valença é muita rica gastronomicamente! Temos cada petisco! Logo chega a lampreia, o sável e o salmão cá do nosso rio Minho; é único!…”.

Falamos da Feira dos Santos, das castanhas e dos pericos. O Dr. Júlio Evangelista adorava todos os petiscos culinários da sua terra. Tinha uma noção muito concreta de tudo o que cá se cozinhava bem, e os restaurantes onde os comer! Era um bom gastrónomo e tinha um carinho incondicional por Valença.

Dias depois de nos termos encontrado, o seu chauffer veio entregar-me um envelope grande com alguns dos seus livros: “O Sr. Dr. manda estes livros”.

Não voltei a estar com o Dr. Júlio nem tive oportunidade de agradecer-lhe porque, passados poucos dias, faleceu inesperadamente.

Guardo-os como recordação, mas também foram para mim o assumir de um compromisso ao apelo que o Dr. Júlio me fez na dedicatória do seu livro “Poesia 1943-1990”, onde me faz a seguinte recomendação:

Meu caro João Guterres: e vivam os pericos!
Vê se consegues salvar a árvore, e prestarás um grande serviço à nossa terra!

Valença 24-set.-2005
Júlio Evangelista

Fazia ainda uma recomendação escrita a lápis:
“Vê pág. 104” Onde se lê este seu lindo poema.”

POEMA EM LOUVOR DE SÃO MARTINHO

Comprei castanhas assadas,
Uma caneca de barro
Que mandei encher de vinho,
E esta noite, no meu quarto,
Inda que esteja sozinho,
Vai haver lá festa rija
Em honra de São Martinho
Saudades da minha terra,
Ai não volteis, por favor,
A perturbar a alegria
Que é devida a este dia!
Saudades do vinho verde,
Do vinho verde que é bom,
Verde vinho que é vermelho-
Vermelho ou branco enfeitiça-
E até o senhor Abade
Bebe aos domingos, na Missa!

Ai não volteis, por favor,
Saudades da minha terra!
Da grande Feira dos Santos,
Com barracas de comidas
E bebidas,
Cestos cheios de pericos
E de castanhas cozidas
que se comiam à vinda
Da grande Feira dos Santos.

(Julinha também era
Mesmo da cor dos pericos
Que se vendiam nos Santos;
A Julinha era a mais linda
Morena lá do lugar:
Mas teve um dia um namorado
E o povo dizia coisas
Que eu não quero acreditar.
Agora está em Lisboa: –
Pobre Julinha morena
Mesmo da cor dos pericos…) 

(11-11-1950)

Topo